Seção 12 Resumos (ver abaixo)
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Coordenação:
Carla Sofia Amado (Saarbrücken)/ Thomas Johnen (Estocolmo)
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À descoberta de culturas em quatro continentes através da língua: o Português como Língua Estrangeira
O Português é, a seguir ao Inglês e ao Francês, a língua com maior distribuição geográfica sendo a língua oficial de oito países em quatro continentes.
Com esta seção dedicada ao Português Língua Estrangeira pretende-se partir à descoberta desse espaço dando voz aos agentes ativos nos vários processos ligados ao ensino de PLE seja no nível escolar, universitário ou na educação continuada, possibilitando, assim, um intercâmbio de resultados de investigações, de experiências e ideias a partir das quais será possível definir estratégias e métodos de ação comuns.
Para além dos temas tradicionais das várias variedades do Português como as quatro competências (compreensão auditiva e escrita, expressão oral e escrita), o ensino da gramática, a pronúncia, o vocabulário, os trabalhos contrastivos com relevância para o ensino de PLE, a análise de erros, a interlíngua, os estudos longitudinais de aquisição de português como LE/L2/L3, a dimensão (inter-) cultural no ensino de PLE, literatura no ensino de PLE, os testes (de diagnóstico) e outros que serão bem-vindos, gostaríamos de destacar os seguintes temas:
1. O Português como uma língua pluricêntrica no ensino de PLE
2. O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa no ensino de PLE
3. A aquisição do Português como língua terceira
4. Métodos, manuais e tecnologias na didática do Português Língua Estrangeira
5. A problemática da linguagem académica
Mais informações sobre estes temas no site:
http://www.ispla.su.se/ml_mod02.asp?src=41&sub=73&usub=&intSida=95&perId=109&perSida=1078
Passados 10 anos desde a última seção em Germersheim dedicada à Didática do Português é tempo de atualizar as nossas perspetivas, de adaptar a nossa visão à realidade atual, de dar resposta ao desafio que constitui deixar os lugares comuns e abraçar as novas problemáticas fruto da evolução dos tempos.
O desafio está lançado! É com grande entusiasmo que aguardamos as vossas contribuições!
Obs.: As línguas oficiais do congresso são alemão, galego e português. Para assegurar a compreensão de participantes não-germanófonos pedimos que considere a possibilidade de apresentar a comunicação em Português.
Participantes:
Carla Amado (Saarbrücken)/Sílvia Melo-Pfeifer (Berlim): «Que cultura(s) nos manuais de PLE para falantes germanófonos? Uma análise de manuais escolares editados na Alemanha»
Filomena Amorim (Aveiro): «Hook Up! - as tecnologias ao serviço da aprendizagem das línguas estrangeiras»
Lucia Bata (Tréveris): «O Acordo Ortográfico da língua portuguesa no ensino do PLE. O caso de Moçambique»
Catarina Castro (Lisboa): «Princípios de elaboração de materiais didácticos para o ensino do Português como Língua Estrangeira em contexto universitário»
Ailana Cota (Brasília, DF): «O ensino de línguas por meio de elementos culturais - apresentação de um plano de curso»
Anna-Katharina Elstermann (Bochum/Assis): «Videoconferência na sala de aula: um fator motivador na aprendizagem de PLE»
Maria José Herhuth (Marburg): «Kurzgrammatik Portugiesisch: uma abordagem pluricêntrica do português no contexto do ensino de PLE»
Jaroslava Jindrová (Praga): «Algumas dificuldades no ensino de categorias gramaticais tempo e aspecto do verbo português para os falantes de línguas eslavas»
Thomas Johnen (Estocolmo)/Carla Amado (Saarbrücken): «Einführung zur Sektion»
Orlando Kelm (Austin, Texas): «Conversa Brasileira - A Participação do Aluno no Uso do Materiais Online»
José Manuel Lopez (Santiago de Compostela): «Ensino do PLE por tarefas. Um exemplo: criamos um fórum»
Veronica Manole (Cluj-Napoca/Paris): «Algumas dificuldades dos falantes romenos na aprendizagem das formas de tratamento do português europeu»
Fernando Martinho (Aveiro): «A supressão dos pleremas no novo Acordo Ortográfico e o ensino do PLE ato de transparência ou ótica da opacidade?»
Daniel Reimann (Würzburg/Markus Döllinger (Ansbach): «Didaktik des plurizentrischen Portugiesisch. Diatopische Varietäten im transkulturellen Portugiesischunterricht»
Paulo Osório (Covilhã): «Variantes do Português: qual ensinar em contexto de PLE?»
Roberta Salomão (Campinas): «Português como língua estrangeira para alemães - da aula presencial ao tandem e plataformas online de ensino»
Fátima Silva/Isabel Duarte (Porto): «Revisitação do discurso relatado no ensino-aprendizagem do PLE»
Maria Teresa Soares (Nürnberg): «O ensino de Português no Estrangeiro (EPE) - Português como língua identitária no contexto sócio-cultural - didática diferenciada»
Iva Svobodová (Brno): «O uso do artigo com os nomes dos dias da semana e a sua influência no aspecto verbal»
Karin Weise (Rostock): «Ausgewählte Aspekte des Vergleichs von deutschen und portugiesischen Zahlwörtern im Unterricht (Portugiesisch als Fremdsprache)»
Resumos
Carla Amado (Saarbrücken)/Sílvia Melo-Pfeifer (Berlim)
Que cultura(s) nos manuais de PLE para falantes germanófonos? Uma análise de manuais escolares editados na Alemanha
Os manuais escolares, nomeadamente no ensino-aprendizagem de uma Língua Estrangeira, desempenham um papel multifacetado na atividade docente, cabendo-lhe funções como guia pedagógico e estruturador de conteúdos, selecionador de textos e de progressões (temáticas, gramaticais, lexicais, culturais, pragmáticas, ...) e mesmo de avaliador de respostas e de progressos dos alunos e estudantes a quem se dirige. Aliado a outros materiais de acompanhamento (CDs áudio, DVD, caderno de exercícios, ...), o manual escolar é ainda entendido como referencial de estudo, na sala de aula e/ou em autonomia, o que o coloca, muitas vezes, no papel principal (a par do professor), se não no único (em caso exclusivo de auto-aprendizagem), de transmissor de conteúdos linguísticos e culturais.
Esta dimensão pedagógico-didática, relacionada com orientações programáticas e com um currículo base “admitidos” e pré-programados, surge acompanhada de uma outra, nem sempre admitida e visível “a olho nu”, relacionada com a transmissão de representações acerca da(s) cultura(s) dos povos cuja língua procura veicular. É este “currículo oculto” associado à aprendizagem do Português como Língua Estrangeira (PLE) que procuraremos evidenciar e interrogar nesta intervenção.
Deste modo, e depois de uma explicitação teórica do papel do manual e da noção de “representação” em Didática de Línguas, as questões de investigação que nos guiarão na análise de manuais escolares de PLE, no estudo empírico, serão as seguintes:
- que estereótipos e representações culturais são veiculados pelos manuais de PLE editados na Alemanha?
- que áreas temáticas são mais permeáveis à emergência de estereótipos e representações nestes manuais?
- como se transmitem e ganham corpo nas suas páginas, do ponto de vista gráfico e visual?
- acerca de que países lusófonos versam esses estereótipos e representações? Que imagem da Lusofonia nos 4 continentes ajudam a criar?
Terminaremos com questões relativas ao papel do professor no sentido de não se deixar apropriar por estes materiais didáticos (interrogando, desconstruindo e reconstruindo as representações e os estereótipos) e da formação (contínua) de professores como forma de deles se tornarem proprietários, através da promoção da reflexão e do espírito crítico em torno do que o mercado e a lógica da competitividade têm para oferecer em termos de ferramentas de trabalho. As nossas conclusões permitirão postular que “se não os podes vencer, junta-te (cautelosamente) a eles”.
Filomena Amorim (Aveiro)
Hook Up! - as tecnologias ao serviço da aprendizagem das línguas estrangeiras
Numa Europa que se pretende cada vez mais multicultural e plurilingue, a língua continua a ser um factor crítico no que concerne à internacionalização no Ensino Superior, pelo que muitas vezes se impõe como uma barreira e não como elo de ligação entre culturas, criando, assim, entraves à mobilidade estudantil.
Considerando a realidade anteriormente descrita a European University Foundation – Campus Europae (EUF-CE) (http://www.campuseuropae.org/en/), através da European Commission’s Lifelong Learning Programme lançou um projecto-piloto, em 2008, denominado Hook Up!, para a criação de uma plataforma de ensino-aprendizagem de línguas, constituído por 12 línguas, 19 universidades e 16 países europeus.
A plataforma de ensino desenvolvida no seio do projeto Hook Up!, alojada na plataforma online Moodle, serve de suporte à mobilidade e, consequentemente, ao sucesso académico dos estudantes em mobilidade.
Com o Hook Up! os estudantes devem atingir pelo menos o nível B1 das línguas dos países onde se situam as universidades de acolhimento, visto que o projeto tem a duração de dois anos, em dois países e duas universidades diferentes. Para a concretização dos objetivos propostos, os estudantes devem começar o estudo da língua estrangeira num período anterior à sua deslocação para o país de acolhimento. Já na universidade estrangeira, os alunos têm acesso a um curso intensivo da língua falada nesse país, sendo seguido por dois semestres que contemplam a continuidade da aprendizagem gratuita dessa língua. No seu regresso ao país de origem, em cada um dos dois anos, os estudantes podem continuar os seus estudos da língua estrangeira. Para além disto, os estudantes podem aceder a todos os níveis de estudo de qualquer uma das línguas da rede Campus Europae, quer através de aulas em regime de e-learning, quer através de auto-estudo. Deve salientar-se que a maior parte das línguas que integram este projeto têm a particularidade de pertencerem ao leque das menos faladas e aprendidas na Europa, o que constitui uma mais-valia. Os módulos que compõem cada uma das línguas estão presentes em http://languagelearning.campuseuropae.org/.
O processo de ensino aprendizagem é complementado pelo uso de serviços disponibilizados na internet como o Skype, a Wiziq, o DimDim, o Survey Monkeys, o Hot Potatoes, que possibilitam uma comunicação (as)síncrona e ainda servindo uma aprendizagem (in)formal.
Os estudantes recebem, assim, formação para estudar e trabalhar em diversas línguas e em diferentes ambientes culturais.
Esta comunicação vai centrar-se apenas no caso português, mais concretamente no trabalho inovador do Departamento de Línguas e Culturas da Universidade de Aveiro que, desde 2009, desenvolve, no âmbito do projeto Hook Up!, produtos inovadores para a língua portuguesa, como língua estrangeira.
Bibliografia
Campus Europae (2003): Concept Campus Europae. Luxembourg: Campus Europae.
Conselho da Europa. (2001): Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas – Aprendizagem, Ensino, Avaliação. Perspectivas actuais. Lisboa: Educação. ASA Editores II.
Knight, Jane (2003): Internationalization of higher education practices and priorities: 2003 IAU survey report. Paris: International Association of Universities.
Lucia Bata (Tréveris)
O Acordo Ortográfico da língua portuguesa no ensino do PLE. O caso de Moçambique
À semelhança de muitos países africanos, Moçambique é um país que goza duma pluralidade linguística cuja padronização ainda constitui objeto de estudo. Assim é que, a língua portuguesa, tornada oficial e de unidade nacional aquando da independência em 1975, coexiste com 20 outras línguas bantas que têm por sua vez um elevado número de dialetos.
Nesta intervenção, pretende-se avaliar o processo de ratificação e implementação do novo acordo ortográfico no contexto local, tendo em conta que se trata de um país onde apesar da língua portuguesa ter o estatuto de língua oficial, a mesma ser falada por menos de 50% da população e apresentar características próprias que a distanciam, por vezes, do português europeu.
A intervenção centrar-se-á nos seguintes pontos:
- O contexto histórico-social da formação dos falantes da língua portuguesa em Moçambique
- A atual situação linguística de Moçambique
- As implicações da ratificação e implementação do novo acordo ortográfico no contexto moçambicano
Bibliografia
Dias, Hisildina Norberto (2006): «As Sociedades Sociolinguísticas e o Fracasso Escolar», in: Direcção a uma prática linguística - escolar libertadora. Maputo: Texto Editores.
Dias, Hisildina Norberto (org.) (2009). Português Moçambicano: Estudos e reflexões. Maputo: Imprensa universitária.
Dias, Hisildina Norberto(2002): Minidicionário de Moçambicanismos. Maputo: Furtado & Godinho.
Gonçalves, Perpétua (2000): «Dados para a história da língua portuguesa em Moçambique», disponível em: cvc.instituto-camoes.pt/hlp/geografia/portuguesmocambique.pdf.
Gonçalves, Perpétua (2010): A Génese do Português de Moçambique. Lisboa, Imprensa Nacional / Casa da Moeda.
Catarina Castro (Lisboa)
Princípios de elaboração de materiais didácticos para o ensino do Português como Língua Estrangeira em contexto universitário
Sustenta-se a necessidade de elaboração de materiais didáticos especificamente dirigidos à aprendizagem do Português como Língua Estrangeira em contexto universitário com base num conjunto de princípios adequado.
A comunicação tem como objetivo apresentar e defender a aplicação de alguns princípios fundamentais na elaboração de materiais didáticos dirigidos ao ensino do Português como língua estrangeira em contexto universitário, adaptados ao contexto cognitivo e à especificidade de competências a desenvolver neste nível de ensino. O conjunto de princípios selecionados fundamentar-se-á nos resultados recentes da investigação sobre aquisição e métodos para o ensino/aprendizagem de línguas estrangeiras, assim como em orientações oficiais sobre políticas de língua para o Ensino Superior europeu.
Ailana Cota (Brasília, DF)
O ensino de línguas por meio de elementos culturais - apresentação de um plano de curso
Quando uma pessoa aprende uma determinada língua significa que ela entrará em contato com a cultura, ou pelo menos com parte dela. É de conhecimento geral que a língua está repleta de elementos culturais, da mesma maneira que reforça a cultura, reflete-a e é refletida por ela. Portanto, o grande desafio dos professores de línguas estrangeiras/L2 é ensinar a língua de forma a tratar da cultura com o cuidado de não criar nem reforçar estereótipos. O ensino de línguas por meio de materiais padronizados é mais fácil para o professor, porém, até que ponto a cultura é trabalhada em sala de aula se somente este tipo de material for utilizado? Há materiais que contemplam elementos culturais de maneira satisfatória? Então, como o professor pode tratar de assuntos culturais de forma que consiga ensinar língua ao mesmo tempo em que ensina cultura? Quais elementos culturais devem ser tratados? Como fazer para que os aprendizes participem da construção desse conhecimento em vez de o professor ser o centro de todas as aulas? O trabalho em questão objetiva a discussão do ensino de língua com o uso de elementos culturais. Para tanto, será apresentado um plano de curso do ensino de Português do Brasil como LE, utilizado como guia para as aulas do 1º semestre de 2011, na Escola das Nações/ Brasília/ Brasil com base em elementos culturais da região Nordeste do Brasil.
Anna-Katharina Elstermann (Bochum/Assis)
Videoconferência na sala de aula: um fator motivador na aprendizagem de PLE
Uma das vantagens de introduzir novas tecnologias em aulas de língua estrangeira é a oportunidade de comunicação autêntica com falantes de outras línguas e culturas. Várias tecnologias “online” como e-mail, chat, MOO e videoconferência já foram utilizadas por professores de língua estrangeira para introduzir seus alunos no intercâmbio linguístico com falantes nativos e, neste contexto virtual, aprender mais sobre a cultura-alvo (cf. Warschauer 1995, Kötter 2002, Telles 2009).
O objetivo desta comunicação é apresentar uma das possibilidades didáticas de como videoconferências em grupo e teletandem - a interação entre um par de alunos de línguas diferentes assistido pelo computador com aplicativos de vídeo e mensagens instantâneas (como Skype, por exemplo) - podem ser integrados em aulas de língua estrangeira. O estudo a ser apresentado foi realizado durante um semestre com dois grupos de alunos universitários de Letras: um grupo de alemães que participaram em um curso intensivo de português oferecido pela Faculdade de Tradução, Linguística Aplicada e Estudos Culturais da Universidade Johannes Gutenberg Mainz (Alemanha) e um grupo de estudantes brasileiros de língua alemã do Departamento de Letras Modernas da Universidade Estadual Paulista em Assis (Brasil).
Bibliografia
Kötter, Markus (2002): Tandem learning on the Internet. Frankfurt am Main: Peter Lang
Telles, João A. (Org.) (2009): Telet@ndem: um contexto virtual, autônomo e colaborativo para aprendizagem de línguas estrangeiras no século XXI. Campinas: Pontes.
Warschauer, M. (Org.) (1995): Virtual connections: on-line activities and projects for networking language learners. Honolulu: University of Hawaii, Second Language teaching and curriculum center.
Maria José Herhuth (Marburg)
Kurzgrammatik Portugiesisch: uma abordagem pluricêntrica do português no contexto do ensino de PLE
O quadro do ensino do Português nas universidades alemãs alterou-se com a aplicação do Processo de Bolonha. O Português passou a ser oferecido sobretudo como 3ª língua românica ou como módulo externo do currículo de outras Faculdades.
Por outro lado, muitos dos estudantes que querem aprender Português já tiveram uma experiência de imersão linguística num país lusófono, geralmente no Brasil, mas por vezes também nos PALOP.
Para o professor de PLE nem sempre é fácil gerir a heterogeneidade daí resultante, ou seja, sem deixar de respeitar o interesse do aprendente por uma variante, com seus usos diferentes da língua, proporcionar uma certa uniformidade de aprendizagem e saber avaliar em conformidade.
Kurzgrammatik Portugiesisch (Sommer/Herhuth 2010) pretende responder a este desafio, não só a nível do aprendente, como também a nível do professor de língua. Respeitando os limites que a série “Kurzgrammatik” impõe (número de páginas, níveis de língua, etc.), ela foca os temas principais da gramática de PLE, numa perspetiva de uso, apresentando paralelamente, e de modo sistemático, as duas grandes variantes do Português. É também a primeira gramática a seguir o Acordo Ortográfico.
Nesta comunicação apresentarei alguns exemplos, tendo em vista a sua aplicação em sala de aula.
Bibliographie
Sommer, Nair Nagamine/Herhuth, Maria José Peres (2010): Kurzgrammatik Portugiesisch: zum Nachschlagen und Üben ; Niveau A1-B2. Ismaning: Hueber.
Jaroslava Jindrová (Praga)
Algumas dificuldades no ensino de categorias gramaticais tempo e aspecto do verbo português para os falantes de línguas eslavas
Enquanto que nas línguas eslavas o eixo temporal tem a posição enfraquecida a favor da categoria do aspeto, em português a maior importância recai sobre o eixo tempo - modo.
Categoria do Tempo
O tempo gramatical é definido como um conjunto de paradigmas por intermédio dos quais situamos na reta temporal os determinados momentos de enunciação (ME).
Os paradigmas das línguas modernas variam em número, mas na maioria delas o ME divide a reta em três trechos básicos: anterioridade, simultaneidade e posterioridade em relação ao ME (falamos assim dos tempos do passado, do presente e do futuro). São os tempos básicos ou dêiticos. Em checo existem só estes tempos chamados absolutos, o português conta, no entanto, com uma grande variedade de tempos relativos, por intermédio dos quais podemos expressar a estrutura temporal interior de cada enunciação – i.e. a relação entre vários acontecimentos que ocorrem paralelamente com o ME, ou são anteriores ou posteriores. Não dispondo deste instrumento, o checo tem que usar outros recursos gramaticais e lexicais ou a combinação destes.
Categoria do Aspecto
Em português, a categoria do aspeto é considerada como qualidade do modo da ação verbal. Fala-se assim sobre o aspecto durativo, terminativo, ingressivo, etc.
A aspetualidade do verbo checo é um sistema de três níveis diferentes:
a) aspecto propriamente dito – categoria gramático-lexical
aspeto perfetivo / imperfetivo
b) modo da ação (Aktionsart) – categoria lexical
ação ingressiva, iterativa, incoativa, durativa, terminativa ... (afixos e perífrases verbais)
c) classificação semântica – oposição télico / atélico:
estados (viver, amar) e processos (passear, cantar) são atélicos, eventos (escrever, dizer, apaixonar-se) são télicos
A assimetria dos dois sistemas exige procurar recursos diferentes e no ensino representa uma das maiores dificuldades para os falantes de línguas eslavas.
Thomas Johnen (Estocolmo)/Carla Amado (Saarbrücken)
Einführung zur Sektion
Orlando Kelm (Austin, Texas)
Conversa Brasileira - A Participação do Aluno no Uso do Materiais Online
Esta apresentação discute o atual uso da Internet e como ela afeta o ensino de línguas estrangeiras, especificamente no contexto de ensino-aprendizagem. A análise do uso de vídeo integra o website "Conversa Brasileira", que demonstra o uso inovador de novas tecnologias, principalmente como instrumento significativo de envolvimento e interação por parte dos alunos. A "Conversa Brasileira" ecoa situações efetivas de uso de língua por falantes nativos. Tais situações incluem conversações espontâneas, permeadas de perguntas, respostas, tomadas de turno, clarificações, intercalações, interrupções, hesitações e linguagem corporal características de contextos reais de interação verbal. Os diálogos são complementados por transcrições, traduções, comentários envolvendo análise linguística e/ou cultural, arquivos em PDF disponíveis para download e blogs de discussão. A URL para "Conversa Brasileira" é: coerll.utexas.edu/brazilpod/cob/.
José Manuel Lopez (Santiago de Compostela)
Ensino do PLE por tarefas. Um exemplo: criamos um fórum
Dentro do âmbito do Método Comunicativo no ensino de línguas surgiu a abordagem por tarefas. A tarefa, à partida atividade que envolve em grande medida o extralinguístico, isto é, “fazer alguma coisa” torna-se instrumento central de aprendizagem da L2.
Esta é a orientação que guiou esta Unidade Didática, focada na criação de um Fórum online de aula sobre a temática de viajar de carro, em que os próprios aprendentes expõem as suas dúvidas ou apontam soluções às dos companheiros. O nível de desempenho foi adaptado ao B1+ ou B2 do Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas (CECR).
Sob esse objetivo global (a tarefa-alvo) vão organizando-se microtarefas comunicativas orais e escritas (elaborar um folheto sobre segurança na condução; preencher a Declaração Amigável de Acidente Automóvel, ordenar os passos na atuação perante um acidente; completar um teste de trânsito) com outras de apoio linguístico (ampliação ou reforço lexical; expressar a eventualidade no futuro, os ordenadores temporais). Serão providenciados materiais (vídeos, computadores, folhetos, jornais, cartas, fichas, fotos) e, sobretudo circunstâncias para que os alunos se desenrasquem em situações o mais próximas de experiências reais fora da sala de aula.
Veronica Manole (Cluj-Napoca/Paris)
Algumas dificuldades dos falantes romenos na aprendizagem das formas de tratamento do português europeu
Neste trabalho pretendemos analisar alguns problemas dos falantes romenos na aprendizagem das formas de tratamento (FT) do português europeu (PE). Os desvios analisados provêm dum corpus de produções escritas de alunos universitários. Os informantes têm a idade de 20-21 anos, possuem o nível B1+ de Português, conforme o Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas (QECRL) e estudam o português no âmbito do curso de Português para Comunicação Profissional da Licenciatura de Línguas Estrangeiras Aplicadas. Além do romeno como língua materna, cada um dos informantes tem conhecimentos de pelo menos dois idiomas dos seguintes: Inglês, Francês, Espanhol, Italiano, Húngaro ou Alemão. Analisaremos duas grandes categorias de desvios: morfossintáticos e semântico-pragmáticos. Os estudos preliminares revelam que na primeira categoria de erros, os mais frequentes são os que envolvem os pronomes você e vocês e os clíticos e que de entre os desvios semântico-pragmáticos mais numerosos são os desvios com você, seguidos pelas FT nominais do tratamento das mulheres. O tratamento verbal formal (3ª pessoa do singular) apresenta também dificuldades. Impõe-se a criação de materiais específicos, para todos os níveis, de forma a melhorar este aspeto da aprendizagem do PE.
Bibliografia
Brown, Roger / Gilman, Albert ([1960] 2003): «The pronouns of power and solidarity», in: Bratt Paulston, Christina / Tucker, G. Richard (org.): Sociolinguistics. The Essential Readings. Malden; Oxford; Melbourne; Berlin: Blackwell, 156-176.
Cintra, Luís, Lindley (1972): Sobre “formas de tratamento” na língua portuguesa. Lisboa: Horizonte.
Carreira, Maria Helena, Araújo (1997): Modalisation linguistique em situation d’interlocution: proxémique verbale et modalités em portugais. Louvain; Paris: Peeters.
Duarte, Jane Cristina, dos Santos (2008): Os pronomes / formas de tratamento no português e a cultura brasileira. Aquisição de segunda língua e aquisição de segunda cultura. Tese de Doutoramento. Rio de Janeiro: Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.
Guţu Romalo, Valeria (2005): «Forme ale politeţii verbale», in: Guţu Romalo, Valeria: Aspecte ale evoluţiei limbii române. Bucureşti: Humanitas,. 126-132.
Leiria, Isabel (2001): «Léxico, aquisição e ensino de L2», in: Polifonia [Lisboa]. 4, 119-141.
Singleton, David (2005): «The critical period hypothesis: a coat of many colours», in: International Review of Applied Linguistics in Language Teaching. 43:4, 269–285.
Fernando Martinho (Aveiro)
A supressão dos pleremas no novo Acordo Ortográfico e o ensino do PLE ato de transparência ou ótica da opacidade?
O Acordo Ortográfico (doravante: AO) de 2009, como sempre aconteceu, tem levantado as questões e polémicas habituais (cf. Casteleiro / Correia 2007), que vão de posições extremas e ideologicamente marcadas a atitudes de resignação e encolher de ombros fatalistas. Independentemente desta questão (que não desenvolverei), cabe aos linguistas apreciar a acuidade técnico-científica deste AO, em especial naquilo que tem de mais perturbante (por interferir com a forma como a língua é simbolicamente representada na escrita): o fim das consoantes mudas.
O português é uma língua cuja ortografia, de natureza latinizante, é mista (cf. Catach 1988, 1992): dispõe de uma componente fonográmica ou cenémica (± 90% dos grafemas, antes do AO), auxiliada de marcas morfográmicas (grafemas-flexão) e marcadores logográmicos ou plerémicos (consoantes mudas, entre outros).
Com o novo AO, essa mistura é objeto de revisão: a escrita do Português é ainda mais cenémica, desaparecendo quase completamente do significante gráfico o sistema logográmico (essencialmente associado às consoantes mudas C e P), o que levanta a questão de saber se se trata de um progresso ou de um empobrecimento (em termos técnicos -quantidade de informação veiculada pelo sistema gráfico- e não em termos ideológicos). Mais precisamente, com o fim das consoantes mudas, será o Português mais fácil de ensinar em situação de língua estrangeira? (parece ser de ordem didática o principal argumento a favor do fim das consoantes plerémicas: tem a ver com "necessidades de alfabetização" (Casteleiro). Sendo uma escrita fonética incapaz de captar a variabilidade dos falantes de uma língua, qual o impacte de uma escrita quase 100% fonográmica sobre o ensino do PLE?
Aquilo que se pretende defender aqui é que o AO introduz uma homogeneização gráfica dentro dos PALOPS à revelia do princípio de similitude existente nas demais línguas baseadas no alfabeto latino (inglês, francês, espanhol, alemão, italiano, etc.). De todas, o Português é a única cuja nova ortografia induz o desaparecimento sem contrapartidas das consoantes mudas existentes (em italiano, as consoantes mudas passaram a consoantes duplas, ver exemplos infra).
Ora, num mundo que, justamente, se considera global, podemos duvidar da legitimidade de medidas que tendem a privilegiar a harmonização interna (dentro dos PALOPS) da ortografia em detrimento da harmonização global. Assim, o fim das grafias CT, PT, CÇ, PC, CC marca a ortografia portuguesa pela negativa, se compararmos com a semiótica do sistema gráfico das línguas concorrentes, na medida em que se põe em causa o processo de analogia logográmica típico desses grafemas, independentemente da sua realização fonética. Ora, suprimir grafemas por estes não serem fonogramas é introduzir na representação gráfica do Português uma perturbação nos processos de identificação analógica que os mesmos desempenham noutras línguas em que, porventura, tais grafemas são fonéticos, correndo-se assim o risco de invalidar a filiação etimológica codificada na estrutura gráfica original e tornar opaca a proximidade semântica e histórica entre as palavras latinas das línguas supracitadas. Os exemplos são inúmeros, vejamos alguns (por ordem: latim, inglês, francês, espanhol, alemão, italiano, português antes AO, português com AO):
-CT: actum, act, acte, acto, Akt, atto, acto, ato
-PT: opto, optics, optique, óptico, optisch, ottica, óptico, ótico
-CÇ: actio, action, action, acción, Aktion, azione, acção, ação
-PC:receptum, reception, réception, recepción, -, ricezione, recepção, receção
-CC:collectio, collection, collection, collection, colección, -, raccolta, colecção, coleção
Tendo em conta que a imensa maioria dos alunos de PLE são nativos de línguas cujo alfabeto é latinizante, e que, por outro lado, tais alunos estão habituados a interpretar a etimologia com grafemas semânticos distribuídos de forma coerente, não parece muito vantajoso do ponto de vista do aproveitamento ensinar a passar de DIRECT para DIRETO, de OPTIMISME para OTIMISMO, de AkT para ATO, etc.
Em síntese, a evolução do sistema gráfico português caracteriza-se pelo desaparecimento progressivo das marcas plerémicas e a sua aproximação de um modelo exclusivamente cenémico, ou seja, de uma escrita de tipo transcrição fonética. Apesar de tal mudança poder ser considerada positiva em termos de impacte sobre campanhas de alfabetização, é certo, por outro lado, que as formas gráficas do Português perdem, com o AO de 2009, as marcas de analogia logográmica das línguas de escrita latinizante e se distanciam perigosamente das marcas históricas que outras grafias ainda conservam preciosamente.
Bibliografia
Blanche-Benveniste, Claire / Chevrel, A. (1978): L’orthographe. Paris: Maspero.
Casteleiro, Malaca J. M. / Correia, P. D. (2007): atual: o novo acordo ortográfico. Lisboa: Texto.
Catach, Nina (1988): «Fonctionnement linguistique et apprentissage de la lecture», in: Langue Française, 80, 6-19.
Catach, Nina (1992): Les systèmes d’écriture. Paris, CNDP
Catach, Nina (org.) (1988): Pour une théorie de la langue écrite. Paris: Éditions du CNRS
Daniel Reimann (Würzburg)/Markus Döllinger (Ansbach)
Didaktik des plurizentrischen Portugiesisch. Diatopische Varietäten im transkulturellen Portugiesischunterricht
Der Beitrag greift das Konzept des Plurizentrismus von (Welt-) Sprachen auf und versucht, es für den Fremdsprachenunterricht nutzbar zu machen, nicht zuletzt vor dem Hintergrund des heute mehr als Interkulturalität anzusetzenden Paradigmas der Transkulturalität (vgl. z.B. Reimann 2011).
Wichtige diatopische Varietäten des Portugiesischen und ihre Eigenheiten werden aus didaktischer Sicht analysiert und konkrete methodische Anregungen vorgestellt, wie Schülerinnen und Schüler im Fremdsprachenunterricht Portugiesisch mit diesen Varietäten vertraut gemacht werden können.
Bibliographie
Reimann, Daniel (2011): «Diatopische Varietäten des Französischen, Minderheitensprachen und Bilinguismus im transkulturellen Fremdsprachenunterricht», in: Frings, Michael/ Schöpp, Frank (Hrsg.): Varietäten im Französischunterricht. Stuttgart: ibidem, 123-168.
Paulo Osório (Covilhã)
Variantes do Português: qual ensinar em contexto de PLE?
A comunicação partirá de uma reflexão acerca das diversas variantes do Português, fazendo-se, deste modo, uma sistematização das variantes ensinadas em diversos locais de ensino do PLE. Após essa reflexão, partir-se-á para as implicações, ao nível de política linguística, da adoção, por parte de alguns professores e de algumas instituições, do ensino de uma só variante ou da coexistência de ensino de diferentes variantes na mesma instituição de ensino. Recorreremos, para uma melhor ilustração, a documentação disponível no âmbito da promoção e difusão do Português.
Por fim, debateremos questões como: (i) deve apenas ensinar-se uma única variante?; (ii) é possível no espaço de sala de aula a existência do ensino-aprendizagem de mais do que uma variante do português?; (iii) equacionar propostas didáticas no sentido de que variante ensinar e de como fazê-lo.
Roberta Salomão (Campinas)
Português como língua estrangeira para alemães - da aula presencial ao tandem e plataformas online de ensino
Estudantes da Faculdade Evangélica de Darmstadt (Evangelische Fachhochschule Darmstadt), Alemanha, com o intuito de fazer intercâmbio acadêmico no Brasil e em Portugal requisitaram um curso de português à coordenação. Este foi o início, há um ano e meio atrás, do curso de Português como língua estrangeira ministrado na referida instituição.
Nesta breve exposição, procurarei discutir a experiência que esses alunos tiveram por meio de Tandens por e-mail realizados com estudantes da Universidade Estadual de Campinas e por meio de Tandens presenciais realizados com os estudantes de graduação brasileiros que estavam em intercâmbio na Universidade Técnica de Darmstadt (Technische Universität Darmstadt). Procurarei levantar ainda questões referentes à importância do professor de língua estrangeira conhecer a língua materna dos aprendizes, a utilização ou não de livros didáticos e o auxílio de eventos culturais extracurriculares.
Ademais, pretendo discutir o cenário atual de algumas organizações e instituições governamentais e privadas brasileiras que tem incentivado a disseminação do português como língua estrangeira, como a comunidade Fale Português, o Siple (Sociedade Internacional de Português como Língua Estrangeira) e fomentar a discussão acerca de atuais plataformas online de ensino como fóruns de português – alemão disponibilizados e monitorados por editoras de dicionários, das quais uma eu faço parte.
Fátima Silva/Isabel Duarte (Porto)
Revisitação do discurso relatado no ensino-aprendizagem do PLE
A partir da análise dos manuais existentes para o ensino-aprendizagem do português como língua estrangeira na sua variedade europeia, propomo-nos formular algumas propostas para o tratamento do discurso relatado nos níveis B e C (de acordo com QECR).
Considerando que o discurso relatado é uma componente fundamental do desenvolvimento da competência comunicativa, sobretudo nos níveis mais avançados, é essencial que os estudantes de PLE sejam confrontados com todas as possibilidades, tanto no que se refere aos mecanismos linguísticos envolvidos, como no que diz respeito à sua importância na construção discursivo-textual.
Nesse contexto, elegemos como objetivos deste trabalho:
- análise do tópico em estudo em manuais de PLE, variedade europeia;
- levantamento dos principais problemas detetados na abordagem dos manuais analisados;
- descrição do problema de um ponto de vista linguístico-discursivo;
- proposta de estratégias alternativas para a abordagem do tema.
A partir da análise dos manuais já referida, mostrar-se-á, com suporte num corpus de base escrita e oral que o discurso relatado apresenta mais variedade e especificidades do que aquilo que é tradicionalmente veiculado. Nesse âmbito, serão apresentadas as características linguísticas, que permitem a atualização das estratégias discursivas utilizadas pelos falantes para relatarem tanto o seu próprio discurso, como o discurso alheio.
Na sequência desta análise comparativa, serão propostas algumas atividades para uma didatização mais eficaz deste tópico do ponto de vista da competência comunicativa a adquirir pelo aprendente.
Bibliografia
Borderia, Pons (2005): La enseñanza de la pragmática en la clase de E/LE. Madrid: Arco Libros.
Duarte, Isabel Margarida (2003): O relato de discurso na ficção narrativa, Contributos para a análise da construção polifónica de Os Maias de Eça de Queirós. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.
Conselho da Europa (2001): Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas Porto: Asa. Disponível em: .
Maria Teresa Soares (Nürnberg)
O ensino de Português no Estrangeiro (EPE) - Português como língua identitária no contexto sócio-cultural - didática diferenciada
• EPE – cursos de língua e cultura portuguesa para crianças e jovens luso-descendentes - pequeno historial (origem e evolução)
• A língua como instrumento de comunicação e identificação
• EPE hoje – população-alvo e condicionamentos
• A atual didática da língua no contexto do EPE
• A língua portuguesa nas comunidades – considerações (língua materna, língua de origem, língua identitária, língua de herança ou língua estrangeira?)
• Divergências e complexidade dos meios didáticos a aplicar
• A didática da língua portuguesa nos vários países da comunidade europeia e as suas caraterísticas:
- interferências linguísticas
- evolução dos conhecimentos linguísticos nos últimos anos
- influência dos novos media (internet, TV cabo) no nível de domínio e expansão da língua portuguesa
Iva Svobodová (Brno)
O uso do artigo com os nomes dos dias da semana e a sua influência no aspecto verbal
O propósito da nossa comunicação, concernente à problemática do uso do artigo, é apresentar os resultados de investigação de identificação dos valores „aspetuais“ do artigo nas construções onde o artigo faz parte dos nomes dos dias da semana. Começamos por partir das dificuldades que se têm revelado no caso dos falantes não nativos durante a aquisição do português LII, concretamente, durante a aquisição da categoria morfosemântica de determinação. Focalizaremos a caracterização dos valores aspetuais do artigo que correspondem a alguns dos valores aspetuais dos verbos, exemplificando cada valor aspetual do artigo sempre com uma frase prototípica, o que terá uma importância crucial e facilitará significativamente o sucesso, insucesso e modo do processo de aquisição deste fenómeno gramatical.
A caracterização a ser apresentada resulta de um percurso interdisciplinar uma vez que foram aproveitadas as fontes de linguística teórica e computacional. Quanto a preocupações sobre o processo de aquisição de segunda língua e, concretamente, da percepção do uso do artigo em determinadas construções, será pertinente partirmos do facto de o artigo apresentar três valores estilísticos /constante, adquirido e inerente. Segundo as nossas observações, no caso dos dias da semana, o artigo apresenta, em cada construção prototípica um valor constante, tendo em diferentes registos (oral e falado) um uso consagrado e desempenhando uma relevante influência na percepção do valor aspetual da predicação. Veja-se as seguintes frases:
Terça é o meu dia de ir a Lisboa
Terça vou a Lisboa./ Na terça vou a Lisboa.
À terça vou a Lisboa./ Às terças são duras.
As terças são duras.
Na primeira parte da nossa apresentação, abordaremos, concisamente, a evolução histórica dos nomes dos dias da semana no português, relembrando e explicando a razão de os nomes dos dias da semana terem étimos diferentes dos das outras línguas românicas. Ao mesmo tempo, mostraremos os exemplos concretos do uso do artigo com os dias da semana ao longo dos séculos passados, partindo dos resultados que tirámos do textos do Português arcaico, „médio“ e europeu, disponíveis na „Gramática do Português Antigo“ (Huber 1986) e no corpora Linguateca „Vercial“.
Na segunda parte da comunicação apresentaremos todas as teorias e regras gramaticais que encontrámos nas gramáticas da língua portuguesa, que se referem ao uso do artigo e preposições com os nomes dos dias de semana „Gramática do Português Contemporâneo“ (Cunha / Cintra:1999), „Moderna Gramática Portuguesa“, (Bechara, 1999), „Portugalština“ (Jindrová 2001).
Ao longo da nossa comunicação aludiremos às especificidades do artigo que verificámos em três registos linguísticos: 1. textos jornalísticos e metereológicos (Linguateca, CETEM PÚBLICO) 2. textos literários (Intercorp) e 3. textos falados (documentos autênticos do português falado do IC).
Na parte da conclusão tentaremos comparar, através das estatísticas elaboradas com base nos materiais de apoio mencionados, os possíveis usos do artigo nas construções: Prep.-Det-N.
Referências bibliográficas
Bechara, Evanildo (371999): Moderna gramática portuguesa: edição revista e ampliada. Rio de Janeiro: Lucerna.
Cunha, Celso / Cintra, Lindley (1999): Gramática do Português Contemporâneo. Lisboa: João Sá de Costa.
Huber Joseph ([1933] 1986): Gramática do Português Antigo. Lisboa: Gulbenkian.
Jindrová, Jaroslava (2001): Portugalština. Voznice: Leda.
Lapa, Manuel Rodrigues (1984): Estilística da Língua Portuguesa, Coimbra: Limitada.
Madeira, Ana (2008): «Aquisição de L2» in: Osório; Paulo / Meyer, Rosa Marina (coord.): Português Língua Segunda e Língua Estrangeira, Lisboa: Lidel, 189-203.
Santos, Ana Sofia Rodrigues dos (2008): «A influência da L1 no processo de aquisição de L2: um estudo sobre a transferência de parâmetros morfológicos e sintácticos», in: Fiéis, Alexandra / Coutinho, Maria Antónia (org.): XXIV Encontro Nacional da Associação Portuguesa de Linguística Textos Seleccionados Braga, 20-22 Novembro 2008. Lisboa: APL467-480.
Svobodová, Iva (2009a): «Artigo como estilema», in: XXV Encontro Nacional APL, Abstract Conferencial, FLUL, Lisoba, 159-161.
Svobodová, Iva (2009b): «Movimentos semânticos do artigo», in: Studia Romanica Bratislavensia, vyd. Secção de Lusitanística 2009. Bratislava: Ana Press, 121-141.
Svobodová, Iva (2009c): «Tempo e espaço como factores linguísticos e extralinguísticos que compõem o semema do artigo», in: Études Romanes de Brno, 29/30:1, 243-256.
Svobodová, Iva (2010): Stylisticko-pragmatické faktory použití členu v současné portugalštině. Brno: Masarykova Univerzita/ Muni press.
Corpora:
Vercial, Cetem Publico (Linguateca), Intercorp; Materiais audio-visuais: Documentos autênticos do Português Falado , Instituto Camões, Lisboa; RTPI.
Karin Weise (Rostock)
Ausgewählte Aspekte des Vergleichs von deutschen und portugiesischen Zahlwörtern im Unterricht (Portugiesisch als Fremdsprache)
Ausgehend von der "Textgrammatik der deutschen Sprache" (Weinrich, 1993) werden beim Vergleich der Numeral-Artikel (Zahlen) im Deutschen und Portugiesischen die strukturellen Unterschiede insbesondere bei der additiven Kombinatorik (z.B. die Zahlenwerte 13-19, 21-29, 54,76) sowie der additiv-multiplikativen Kombinatorik (z.B. die Zahlenwerte 532, 917 und 1939) deutlich. Bei den Ordinalzahlen im Deutschen und Portugiesischen sind die Grenzen zu den Adjektiven unscharf. Trotz dieser Analogie gibt es teilweise gravierende Unterschiede im Gebrauch derselben auf der Textebene. Auffallend ist im Portugiesischen der Gebrauch von Ordnungszahlen zur Bezeichnung von Wochentagen.
Bibliographie
Weinrich, Harald (1993): Textgrammatik der deutschen Sprache. Manheim: Dudenverlag.